Reconhecida por sua expertise em irrigação e manejo agrícola, a estatal chinesa Hulunbuir State Farm Group deu um passo estratégico rumo à expansão internacional ao autorizar, de forma imediata, a busca por terras no Brasil para cultivo de soja, milho e algodão. A decisão foi confirmada durante uma reunião online com a Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), realizada em 13 de março de 2025, e decorre de um acordo de cooperação firmado no mês anterior, durante um evento em São Paulo.
Esse pacto entre a SNA e o grupo chinês busca estabelecer uma parceria sólida e duradoura, com foco em troca de tecnologias, aumento de produtividade e colaboração com propriedades ou empresas brasileiras. A iniciativa surge em um cenário de grande dependência da China em relação às importações de grãos — especialmente da soja brasileira — e marca um novo momento na relação comercial entre os dois países.
De acordo com Hélio Sirimarco, vice-presidente da SNA, o Brasil possui aproximadamente 30 milhões de hectares de pastagens degradadas, que podem ser convertidas em áreas agrícolas sem causar desmatamento — fator que chamou a atenção da estatal chinesa. Durante o encontro, o presidente da Hulunbuir, Guo Ping, autorizou o início imediato da busca por terras aptas para compra ou arrendamento com finalidade agrícola. No entanto, qualquer aquisição dependerá das normas brasileiras sobre a compra de propriedades rurais por estrangeiros. A SNA já mobilizou seu departamento jurídico para avaliar a legalidade da operação.
Outro tema relevante discutido foi a aplicação de tecnologias agrícolas desenvolvidas na China. A Hulunbuir pretende empregar no Brasil seus sistemas avançados de irrigação, técnicas de manejo e sementes resistentes ao frio — adaptadas às baixas temperaturas da Mongólia Interior, onde atua. Em contrapartida, Sirimarco sugeriu a Embrapa como possível parceira para suporte técnico, fornecimento de sementes adaptadas ao solo brasileiro e apoio ao longo de toda a cadeia produtiva.
A tecnologia de irrigação chinesa também despertou interesse, principalmente para uso em regiões como o Vale do São Francisco.
Além do plantio, a estatal demonstrou interesse em compreender melhor os processos logísticos e de comercialização de grãos no Brasil. A SNA apresentou um panorama do mercado nacional e das exportações, destacando o monitoramento das demandas internas e externas. Em troca, a Hulunbuir se dispôs a oferecer intercâmbio tecnológico na área da pecuária, setor no qual possui grande know-how, visando estender a colaboração também para essa frente.
Outro ponto relevante do acordo é o envolvimento do SNASH — hub de inovação da SNA que reúne mais de 150 startups do agronegócio em todo o país. A estatal chinesa demonstrou forte interesse em estabelecer conexões com essas empresas, criando oportunidades para inovação colaborativa e novos empreendimentos.
A chegada da Hulunbuir ao Brasil marca um novo capítulo na parceria sino-brasileira, com potencial para atrair investimentos, elevar a produtividade no campo e fomentar o uso de tecnologias sustentáveis. Com base na cooperação mútua e no respeito à legislação brasileira, essa iniciativa pode representar um marco importante na internacionalização da agropecuária nacional.